A ousada e maravilhosa moda de John Galliano

Que moda é arte nunca foi colocado em dúvida. Mas fazer da moda a porta para todas as artes é, no mínimo, um desafio.
E este desafio foi apresentado por John Galliano no último dia 22 de janeiro. No Pólo de Paris uma platéia extasiada com o espetáculo de moda, aplaudiu de pé a apresentação do estilista britânico que festeja 10 anos de colaboração com a Maison Dior e marca os 60 anos da grife.
O espetáculo foi apresentado em uma tenda montada no Pólo onde normalmente cabem 900 pesoas. Mas para esta apresentação foram escolhidas, a dedo, somente 300 espectadores. Público composto de ricas e famosas, exclusivamente.
O desfile de lançamento da coleção de alta costura do verão 2007 foi inspirada na arte dos origamis. Gueixas de bocas cor de sangue e tez cremosa evoluíam do pódio transformado em palco de teatro. As modelos eram lançadas ao palco por uma porta rotatória que desembocava em um lounge. A passarela só iria começar a partir deste momento e, mesmo assim, ziquezaqueando em volta dos convidados.

Além de quimonos almofadados, as modelos apresentavam grandes leques, lanternas e ramos de madeira prendendo os cabelos.
Verdadeiras gueixas do século XXI visitaram os clássicos da arte feudal japonesa para trazer para a nata francesa o que há de mais sofisticado entre a moda, a fauna e a flora do oriente.
John Galliano foi enviado por Christian Dior ao país do Sol Nascente, propondo um vestiário inspirado na arte dos origamis, mas namorando também as gueixas de Kurosawa.
Em cenário quase cinematográfico, cerejeiras em flor estavam postas sobre muros cinza perolados.

Quimonos feitos de sábias pregas. Vestidos e casacos bordados tão ricamente quanto pode ser a arte japonesa, utilizando a flora e fauna em uma perfeita harmonia. Libélulas, borboletas, folhagens verdes – símbolos de uma sabedoria secular - ou flores de nenúfar, todos em cores pastel, azul pálido ou coral. O desfile de longos de noite com flores dobradas, em estilo origami nas mangas e nos ombros foi acompanhado do som de batidas de um gongo.
Estampas de delicados motivos de paisagem ou de pássaros, pintados à mão ou rebordados com fios de ouro e repicados de flores brancas feitas em madrepérola marcaram a beleza e a delicadeza do encontro entre o oriente e o ocidente.

De repente as gueixas de Dior ficam petrificadas para o quadro final. Milhares de borboletas de papel choveram sobre as modelos que usavam casacos laranja em estilo quimono.
E no final crescente, apoteótico, sob uma chuva de flores de cerejeira em papel, Galliano homenageou o império do Sol-Nascente vestindo, ele próprio, um modelo à la Mister Pinkerton, com espada típica, longos cabelos loiros caindo sobre a farda e recebendo os aplausos merecidos pela sua falta de senso de limite, de prudência e de parcimônia.
Personagem da ópera Mme. Butterfly, de Puccini, Mister Pinkerton representa o Tenente Oficial da marinha dos Estados Unidos, em história passada em Nagasaki.

Na moda, música, cultura, natureza, artes plásticas e teatro se juntam para comemorar a união da beleza.
Bravo Galliano!
Merveilleux !!
Sônia Skroski
25 de janeiro de 2007
(fonte : Le Monde – edição de 23 de janeiro de 2007)