Aquarelas de Ubirajara Ribeiro

Meu último contato com Ubirajara Ribeiro foi em 2001. Bira participou de exposição que dirigi e que inaugurou galeria de arte nos Jardins em agosto daquele ano.
Reuni obras de 20 artistas, pintores e escultores, que a meu ver contribuíram de modo significativo para a arte contemporânea brasileira. Dos anos 40 àquela data.
Aldemir, Sacilotto, Babinski, Peticov, Guerchman, Bonomi e outros nomes famosos e renomados, faziam parte da mostra. Bira era um deles. Havia também dois jovens emergentes.
Dois meses antes da exposição liguei para Bira. Há anos não falávamos ao telefone. A conversa fluiu leve, solta. Como se o tempo não tivesse passado. Agradeceu o convite. Falamos de armas, de tiro ao alvo. Bira praticava. Gostava.
Participou da exposição com duas pinturas. Ambas pintadas no verso da tela, no chassi. Chamavam a atenção. Levou-as pessoalmente à galeria. Gostou do espaço, da luz. As telas de Bira ficaram ao lado das de Evandro Carlos Jardim.
Ambos eram professores da Faculdade de Artes Plásticas da Faap. Os dois eram considerados, e eu também os considerava, os melhores. Brilhantes. Os alunos quando se referiam aos dois falavam sempre com respeito, admiração e carinho.
Durante dez anos, de 1969 a 79 cruzei com ambos no hall da Faap. Eu, indo ou saindo do Museu de Arte Brasileira. Eles indo ou vindo da Faculdade de Artes Plásticas. Às vezes conversava rapidamente com Bira. Outras só dizíamos oi, tudo bem?
Terminada a exposição voltamos a falar por telefone. E não falamos mais.

Só soube dele quando, no ano seguinte, Ademar, da Laserprint, telefonou para comunicar sua morte. Lembrei de nossa conversa ao telefone sobre espingardas, fusis, rifles, tiro ao alvo.
Lembrei de Mitos Vazio em 1978. Bira, de botas de montaria, calças de couro, espingarda na mão em frente a um estande de tiro. Os alvos eram pôsteres reproduzindo obras famosas. O meu alvo foi a Mona Lisa. Errei todos os tiros. A mira estava descalibrada. Ninguém acertava. Bira ria.
Agora, a Múltipla está apresentando suas aquarelas. A curadoria e o texto são do crítico Olívio Tavares de Araújo. Ainda não vi a exposição. Só vi o catálogo. Pelo que vi e li tenho certeza de que deve ser surpreendente. Abaixo trechos do texto de Tavares de Araújo.
"Ubirajara nunca cortejou os poderosos, a crítica de arte, a imprensa. Não batalhou por uma “carreira”, no sentido habitual do termo: salões, prêmios, distinções, participação em grupos, badalação. Sua obra possuía, portanto, tudo para ser ensimesmada, autobiográfica e catártica, pondo à tona os demônios que certamente assombravam o autor. Uma obra densa e sombria, como a de um Francis Bacon, e, entre nós, muito da produção de Farnese e a última fase de Iberê Camargo.

Contudo – nunca se poderá explicar bem por quê –, Ubirajara fugiu inteiramente a esse modelo (...) Dir-se-ia que Ubirajara fez o contrário, colocando na obra a luz, a harmonia e a beleza a que almejava, e que não encontrava em seu cotidiano.(...) Sua opção – ou antes: sua necessidade de – beleza reaparece nesta exposição com grande brilho. Resulta ela de uma garimpagem nos guardados de Ubirajara, conservados desde sua morte em numerosas estantes, prateleiras e gavetas no velho e amplo sobrado em que ele vivia em São Paulo. "
EXPOSIÇÃO: Ubirajara Ribeiro – Um Aquarelista Essencial
CURADORIA: Olívio Tavares de Araújo
DATA: 16 de abril a 10 de maio de 2008
LOCAL: Galeria Multipla de Arte
Av. Morumbi 7986, Brooklin, São Paulo