Bienal: Lá & Cá

Li na UOL que Ivo Mesquita, curador da Bienal Internacional de São Paulo, quer que a próxima Bienal tenha como núcleo central uma série de conferências e palestras. Fiquei sabendo também que o curador não quer na 28ª Bienal Internacional, a presença de delegação por país.
É compreensível que a documenta de Kassel se dê a tal luxo.Tem um orçamento bancado pelo governo alemão e empresas privadas, que lhe permite isso. Já a Bienal de Veneza não se dá a tal desfrute.
Cada país comparece com o artista ou os artistas selecionados, por curador ou comissão artística, ou ambos. Ocupa o pavilhão que lhe pertence, concorre ou não aos prêmios, enfim, se faz presente.
Na última bienal, os gastos excessivos do curador americano foram denunciados pelo diretor artístico, que por não concordar com prodigalidade do curador, se demitiu.
Tanto em Kassel, como em Veneza, conferências, simpósios, seminários, fazem parte da Bienal. Mas, não são a razão de ser da mostra. Toda vez que as palavras tomam o lugar da obra de arte, as publicações passam a ser mais importantes que uma tela, uma escultura, uma gravura, uma foto, um vídeo, um filme, uma holografia, algo está errado.

A última documenta de Kassel deixou isso bem claro. Agora, pelo visto, estamos prestes a embarcar na mesma canoa furada. Não se pode admitir que a Fundação Bienal de São Paulo, depois de mais de cinqüenta anos de existência, de 27 bienais realizadas, não tenha competência para cumprir o que determina seu regulamento básico: expor obras de arte.
Tudo mais que gira em torno da exposição, da mostra, é complementar. Secundário. Firulas de curador.
Enquanto se discute a realização da bienal nos termos propostos por Mesquita, na Bienal de Lyon, França, artistas encenam o Kama Sutra. Para eles, a performance está além do texto.
Do que li, do que ouvi, a impressão que ficou é de que o projeto de Mesquita está na bienal errada. A certa seria sem dúvida a Bienal do Livro.
São Paulo 18 de novembro de 2007 12:55 Carlos von Schmidt