Cannes, Yourcenar, Woody Allen e Neno Ramos

Cartaz do 61º Festival de Cannes de 2008
Cartaz do 61º Festival de Cannes de 2008
 

Passei o fim de semana lendo notícias e vendo imagens e vídeos do Festival de Cannes. A entrevista que Woody Allen deu ao Le Figaro sobre seu filme, Vicky Cristina Barcelona, uma história de amor que envolve três mulheres e um homem. Interpretada por Rebecca Hall, Scarlett Johansson, Penélope Cruz e Javier Bardem. A ação se passa em Barcelona. Cidade que Allen considera, como também considero, muito especial. Vicky Cristina Barcelona é o quadragésimo filme de Allen. É o décimo a não concorrer à Palma de Ouro.

Woody Allen  Cannes  maio 2008
Woody Allen Cannes maio 2008

De Cannes informam que dos vinte e dois filmes que concorrem à Palma de Ouro,Três Macacos, da Turquia, do diretor Nuri Bilge Ceylan, ocupa o primeiro lugar. É apontado como o favorito. Blindness, Ensaio sobre a Cegueira, brasileiro, de Fernando Meirelles, co-produção nipo-canadense, com elenco internacional, teve críticas a favor e contra. 

Para a Variety o longa “apesar da forte atuação de Julianne Moore, a trama poucas vezes atinge a força visceral, o espectro trágico e a ressonância humana da prosa de Saramago. O jornal britânico Telegraph escreveu que “Julianne Moore e Alice Braga fazem um bom trabalho para salvar um filme que, ao tentar ser fiel demais ao texto original, cai na monotonia”.

Monica Bellucci e Marco Tullio Giordana em
Monica Bellucci e Marco Tullio Giordana em "Sanguepazzo"

Li Nouvelles Orientales e Conto Azul e outros contos de Marguerite Yourcenar, emprestados por Sônia Skroski.

Ler Yourcenar é um prazer contínuo. As histórias que escreve fogem ao comum. A musicalidade de suas frases é simplesmente incrível: “Os mercadores vindos da Europa estavam sentados sob a coberta, diante do mar azul, à sombra índigo das velas cheias de remendos cinza. O sol mudava inquieto de lugar entre os cordames, e o balanço o fazia saltitar como uma bola a pular fora de uma rede de malhas muito abertas. O navio bordejava a toda a hora para evitar os escolhos, e o piloto atento acariciava o queixo azul”. É assim que começa Conto Azul. E isso é apenas o começo. Quem já navegou encontra na descrição de Yourcenar a realidade dos veleiros, do mar. É exatamente assim. 

Li a versão em francês e inglês dos textos sobre Neno Ramos publicados emartes: vertidos respectivamente por Sônia Skroski e Luísa Artèsa. Neno está na França. Foi a Paris para receber a Medalha Vermeil da Société Académique “ARTS SCIENCES LETTRES”. Ao contrário da aversão que se desenvolveu aqui em São Paulo por premiações, na Europa o prêmio faz parte da vida artística. 

 Luca Zingaretti e Monica Bellucci em
Luca Zingaretti e Monica Bellucci em "Sanguepazzo"


Aqui, para contestar a Bienal, o prêmio foi atacado e minimizado. A partir de então ignorá-lo passou a fazer parte do pequeno circuito artístico das artes plásticas paulistana. Em outras áreas artísticas os prêmios continuam. Nas artes plásticas não existe. A premiação de Neno Ramos chama a atenção para um tema que deixou de ser parte da carreira de um artista plástico, mas que faz a diferença em seu currículo. Algo a se pensar. 

São Paulo 18 de maio de 2008 21h19
Escrito por Carlos von Schmidt