Croissants de grife

Explosões de farinha levam moda quase à perfeição

Vestido curto feito de pães em fatias finas

© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

A Fundação Cartier para a Arte Contemporânea, no Boulevard Raspail, Paris, convidou Jean Paul Gaultier, costureiro renomado, para fazer uma exposição em suas instalações. 

Mas o costureiro não se sentiu artista o suficiente para uma mostra e quis provar aos súditos que sua costura é artesanal. Inventou a moda feita de pão. 

E numa maravilhosa demonstração de criatividade, Gaultier provou não só que é artista como também um excelente padeiro.

A moda é toda feita de pães. A primeira sensação é olfativa, não visual. Odores que se misturam tornando a atmosfera cultural e gastronômica.

Vestido 
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation
 

O maior desafio dos padeiros franceses foi o de deixar os pães “em forma”, já queJPG quis utilizar massa com fermento, para que se parecessem mais com pão fresco. Foram feitas várias tentativas com os pães, até que tomassem forma de vestidos, bustiers, kilts, saias, chapéus, venezianas, guarda-chuvas e quitutes...

Bolsa
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation
 

Após várias explosões de farinha e testes de temperatura, a equipe de padeiros conseguiu chegar quase à perfeição.

O resultado foi a produção de maravilhas técnicas como o kilt de pão sólido ou o vestido curto feito de camadas de farinha tão finas como bolachas, que mais parecem hóstias.

Os fornos no sub-solo
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

Beleza posta à parte, ainda há o risco de algumas implosões, já que toda a coleção foi confeccionada sem a massa interna dos pães para impedir que apodrecessem. A farinha vai se ressecando naturalmente ao longo da exposição e imprevistos podem acontecer. 
Mas nada é problema.
Foi montada uma finíssima padaria no porão da Fundação Cartier. A padaria está a postos para a substituição de qualquer item da exposição e também produz pães frescos e deliciosos para venda aos visitantes. A especialidade da casa fica por conta do “modelo” de um croissant especial, listrado de azul, homenageando o jérsei de marinheiro, marca registrada de JPG.

Sobras de tentativas de fornadas e acidentes de percurso
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

A genialidade de Gaultier pode ser vista desde as venezianas feitas de grandes baguetes, até o guarda-chuva dobrado, feito de camadas de massa folheada e tostada delicadamente. 
Há também o sutiã cônico que Gaultier fez para Madonna, apresentado em massa de pão, desenhada, assada e, delicadamente, dourada.

Bustier cônico feito para Madonna, em massa de pão
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation
 

A moda soirée também está presente. São fatias de pão fresco que se sobrepõem formando a cauda de um vestido de noite.

Vestido longo, de noite
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

Dois brioches posicionados como se fossem seios, saltam de uma cesta de vime no formato de corselete de onde saem baguetes que formam uma saia.

Vestido feito de baguetes saindo de cesta de vime
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation
 

O Espaço Cartier, arquitetado por Jean Nouvel, teve suas janelas do térreo cobertas internamente por imensas venezianas, constituídas de 5.000 baguetes.

Venezianas de baguetes
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

A exposição é lúdica. A infância brota de todas as obras expostas. Existe um sonho que se materializa nas roupas mais simples, como o pullover listrado de marinheiro que exala cheiro de brioche das lancheiras levadas para as escolas na hora do lanche.

O mais interessante é perceber que as artes se misturam. A arte da moda e da gula. Os mais notáveis padeiros da França fazem de seus tabuleiros, verdadeiros quadros. Como se os visitantes fossem convidados a degustar, com os olhos e com a boca, as obras ali expostas. 

Pierre Hermé, o mais célebre dos padeiros franceses expõe suas sobremesas como coleções de alta costura.

Padaria - Pães de grife à venda
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

No sub-solo, enquanto verdadeiros padeiros preparam pães, croissants e os mais variados tipos de massa, uma procissão de jovens e moças, também vestidos deJPG, carregados de baguetes, roscas, pãezinhos, pães de forma, circulam, permanentemente, entre o forno e o imenso balcão de vendas no térreo.

Carregadora de pão 
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

O percurso inclui passar por instalações de vestidos, vestimentas, acessórios, chapéus e guarda-chuvas, togas e sapatos, óculos, bolsas (como a célebre “Kelly” de Hermès), e os modelos fetiches de JPG como o vestido-bustier (o preferido de Madonna) e a célebre Camiseta listrada.

Carregadoras de pão 
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo: Thierry Le Boité/pixelcreation

 

Tudo cortado, modelado e enfornado por artesãos que fazem prodígios com a grifeJPG
Fundação Cartier pode conservar a cozinha montada no porão intacta, para que na próxima mostra o próprio artista possa cozinhar os canapés do vernissage, continuando assim, o casamento exemplar da arte com a gula.
A mostra na Fundação Cartier é a história de um costureiro saudoso do pão de sua infância. Mas que bem que gostaria de estar, ao mesmo tempo, no forno e no moinho. 
É a exposição que vai contar, durante todo o verão europeu, a história de Jean-Paul Gaultier, criador de moda e um estilista de sonhos.

 

"Pain Couture" na Fondation Cartier (2004) 
Jean Paul Gaultier, no dia do vernissage 
com sua famosa camiseta listrada
© Pain Couture by Jean Paul Gaultier
Photo : Thierry Le Boité/pixelcreation

Sonia Skroski
SãoPaulo, 24 de junho 19h01

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