Erico Santos na André

Vaso de flores 70 x 70 cm ost 2006
 


Dia 8 de agosto, terça-feira, às 20 horas, a novaAndrégaleria, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 1753, apresenta a exposição De Quintal e Universo, de Erico Santos. 

São vinte e sete telas pintadas a óleo. Esta é a primeira individual de Erico Santos em São Paulo.

Para o catálogo da mostra escrevi De Quintal e Universo, reproduzido abaixo.

De quintal e Universo

Em textos que escrevi sobre o pintor gaúcho Erico Santos, Um Pintor do Sul e Além da Janela, publicados na Internet em artesdoispontos.com.br e art-bonobo, disse:

“Ele é do Sul. Do Rio Grande. É gaúcho. De Cacequi. Vive e trabalha entre dois ateliês. Um na Rua Padre Chagas, no bairro Moinho de Vento, em Porto Alegre. O Outro, a pouco mais de uma hora da capital rio-grandense.”

“Na história do Rio Grande do Sul, dois Erico se destacam. O Veríssimo na literatura e o Santos na pintura.”

Laranjal 90 x 160 cm ost 2006


“Ambos senhores de suas áreas. Veríssimo, que li adolescente e depois adulto, e Santos, que hoje me emociona com suas colheitas, flores, bois, cavalos. 
Com sua pintura neo-impressionista, às vezes tendendo para o abstrato, mas sempre mantendo a figura como ponto de partida e sempre de chegada.” 

Em Além da Janela, falei de um trem e de uma frase de Erico que me chamou à atenção: “Há imagens em minha memória: da janela do trem... criança. Subindo a serra... imensas tinas transbordando de escuras uvas à espera de transporte”. 

Citei Proust, as madeleines, espécie de pastelzinho doce, o chá de tília, da infância do escritor. Adulto, o gosto e o cheiro das Madeleine e do chá faziam Proust regredir ao passado. Foi desse flash back, dessa regressão que sua literatura nasceu. 

Mulheres e Flores ost 100 x 180 cm


Conclui que é pobre aquele “que não tem um gosto, uma imagem a lhe marcar a infância, a meninice, a adolescência”. Fui mais além ao afirmar: “se Proust não tivesse as madeleines, o chá de tília, não haveria a obra proustiana”. 

“Se Erico Santos não tivesse a janela do trem, as tinas transbordando de uvas escuras, não haveria pintura.” 

“Poderia existir, mas não seria o que é. Seria outra coisa. Não seria a ‘coisa mental’ que é. Aquela ‘cosa’ que Leonardo disse que ‘la pittura è’!”

Festival de Pipas ost 140 x 180 cm 2000


Disse que na pintura de Erico “a cosa mentale” é básica. “É ela que diz a Erico o que pintar. Quando. Como. Onde. Por que?”

“É ela que vai além da janela do trem. Que ultrapassa a contemplação. Recria a imagem. Determina a visão, baliza, norteia.” 

“Na tela, flores, mulheres, colheitas, cavalos, bois, se materializam a partir dessa “coisa mental.”

Ao escrever estes dois textos, estabeleci para mim, approaches, tentativas, caminhos para me aproximar dessa pintura que me faz lembrar uma frase de Gorky, o escritor russo, não o pintor norte-americano: “Se você quer ser universal conheça primeiro o seu quintal”. 

Mulheres ost 40 x 50 cm 2006


Se você não conhece o seu quintal como é que vai descrever, retratar, o seu macro universo? Ou o seu micro universo? É difícil. Não dá!!!
Desse mal Erico não padece. 

Conhece o seu quintal como a palma de sua mão. Sabe onde está cada árvore, cada pedra, cada musgo, cada mancha no muro. O sol onde bate e onde andam as sombras. 

Esse conhecimento se manifesta em cada pincelada. Em cada gesto. Nada é gratuito. Por acaso. Tudo tem sua razão de ser. E é!

Ao associar os dois Erico não o fiz por acaso. Na literatura de Veríssimo a mulher, o homem do Rio Grande do Sul, surge vital, pleno, em suas histórias e sagas. 
Na pintura de Santos essa sensação é igual. 

Os Erico, cada um à sua maneira seguiram as pegadas de Gorky, mergulhando fundo na vida de seus conterrâneos. Na terra. Nas tradições e raízes. 
Tanto para um como para o outro escrever não se resumiu em preencher laudas, pintar, colorir telas.

Colheita de algodão ost 160 x 160 2006


Veríssimo estava atento aos sentimentos, às emoções, às mínimas sensações. Santos não o faz por menos. Encontrá-las é fundamental. Captá-las é primordial. Transformá-las em imagens, é essencial. Básico.

Sem essas sensações não há literatura. Não há Pintura. 
Erico sabe que sem elas pintar não existe. Cultivá-las faz parte do seu cotidiano. Se ao terminar de pintar uma tela não sentir a mesma alegria que um gol do Grêmio lhe provoca, a pintura não funciona. 

Para Erico vida e arte andam juntas. Dissociá-las, não dá. Caminham juntas. 

Acima falei de Gorky como poderia ter falado de Jorge Amado, mais próximo de nós. O regionalismo de ambos deixa de ser local no momento em que suas histórias ecoam no inconsciente coletivo.

O mesmo de se dá com a pintura de Erico. No momento em que suas imagens despertam o inconsciente coletivo os limites fronteiriços desaparecem. O leque se abre. Cresce. Toma o espaço. 
Suas colheitas, suas mulheres, suas flores, seus cavalos e bois deixam de ser o que são e passam a ser todas as colheitas, todas as mulheres, todas as flores, todos os cavalos, todos os bois de todos os lugares. Mundo afora. 

Quando isso acontece o quintal deixa de ser quintal. Passa a ser universo.
É o momento em que a arte existe.
Na pintura de Erico Santos, uma constante permanente.

São Paulo 13 de maio de 2006

Carlos von Schmidt

Curador e Crítico de Arte

Erico Santos estará presente na noite do vernissage.

São Paulo 28 de julho de 2006 12H23’ Carlos von Schmidt 

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