Escultores Brasileiros

O ato de esculpir é considerado, por muitos, como uma arte representativa de figuras ou de ideias que nascem da criação de um volume com materiais os mais diversos, ou ainda um engatinhar artístico para alcançar uma ala mais contemporânea dentro desta linguagem. Existem outras tantas teorias para explicar o palpável. Na verdade, uma escultura só é sentida, entendida pelos olhos, quando é possível olhar somente a escultura em si, o resultado do trabalho como um todo.
No Brasil, a escultura só começou a se manisfestar, lentamente, depois do século XVI, quando algumas poucas construções de edifícios e templos começaram a utilizar peças esculpidas em vilas do litoral do Brasil. Até então, tudo era importado da Europa, sobretudo de Portugal. Mesmo assim, as primeiras criações limitavam-se aos entalhes em madeira e algumas poucas peças em pedra. A maioria das obras tinha cunho religioso em estilo barroco com uma pequena mistura de renascentismo, que logo se tornou um estilo misto, comum nos dois primeiros séculos desta arte aqui no Brasil.
Com a estabilidade econômica e o avanço do crescimento de povoados nos séculos XVII e XVIII, juntamente com a descoberta do ouro e de diamantes no território nacional, abriu-se grande potencial para a arte em geral, e a escultura cresceu muito, principalmente no terreno sacro.
Com o passar dos anos e a partir do concretismo e do neoconcretismo, a escultura foi se fixando como uma das formas mais criativas de arte contemporânea brasileira, talvez a mais criativa nos dias de hoje por sua riqueza de materiais, cores, texturas e linguagem e, aos poucos, vai se soltando das limitações construtivistas, mas sem abandonar suas descobertas fundamentais.
A era digital chegou para alargar os recursos da criação. A tecnologia auxilia a projeção das obras antes de sua confecção, materiais modernos como resinas, borrachas, plásticos, silicones têm-se incorporado a necessidade de expressão dos escultores sem deixar de lado as técnicas e as formas herdadas, o que é singular ao Pós-modernismo, como o citacionismo e a releitura.
Desde o início da era escultórica no Brasil, as expressões na criação das obras sempre pertenceram a vários tipos de manifestações, sejam elas de cunho popular ou ligadas às construções monumentais e luxuosas, como as estátuas barrocas e as neoclássicas. Mas todo e qualquer tipo de herança cultural popular brasileira sempre está presente no moderno, no contemporâneo e no ousado, mesmo que não a olhos vistos. A construção da ideia e da massa que comporta a obra é carregada de tradições.
Escultores brasileiros propõe mostrar o trabalho de alguns escultores do século XX e início do século XXI, artistas brasileiros e alguns outros que escolheram o Brasil para desenvolver sua arte.
Na primeira fase vamos abordar os escultores nascidos no Brasil e já consagrados por suas obras tridimensionais. Na segunda fase, mostraremos alguns dos artistas estrangeiros que vieram para o Brasil e aqui criaram a maior parte de suas esculturas. Para a terceira fase escolhemos artistas considerados “novos”, brasileiros, que estão se destacando no mercado de arte escultórica deste século.
O grande desafio é imergir em cada forma, de cada artista, de cada material e olhar o trabalho propriamente dito como resultado plástico.
 

Primeira fase

CASSIO LÁZARO
Aqui mostramos o trabalho de alguns escultores brasileiros que se consagraram no século XX e início do século XXI por suas obras tridimensionais. Trabalhando com materiais diversos, esses renomados escultores trilharam caminhos diferentes.

As madeiras certificadas e o mármore em formas humanas de Bia Dória contrapõem às peças cinéticas e soldadas da abstração informal de Caciporé Torres. Os amassados fundidos e abrasados de Cássio Lázaro diferem muito das esferas espaciais e da luz necessária à complementação das obras de Cleber Machado. A resina, o latão e o aço escovado das lúdicas e coloridas obras de Gustavo Rosa são o inverso da monumentabilidade geométrica e nipônica de Fukuda. Assim como a arte conceitual e minimalista de Roberto Lerner se distancia das formas figurativistas de atmosfera classicista de Sonia Ebling.

Estes artistas mais maduros certamente tiveram influencias indiretas da abertura pós modernista que trouxe um  leque de novas possibilidades nas formas, técnicas, temática e expressividade. Essas novas linguagens chegaram com a troca de informações e conceitos com outros países e foram imediatamente assimiladas pelos artistas brasileiros. Além disso, esses escultores são fruto dos anos 50, artistas que vivenciaram a abertura do abstracionismo e das formas geométricas, mas sem abandonar por completo o figurativismo. Certamente também foram influenciados pela década de 80 quando novas linguagens apareceram, como as conceituais, minimalistas, as instalações e os móbiles.

Cada um deles adquiriu seu conhecimento escultórico de uma forma e é nisso que está a criatividade e a beleza da obra de cada um.

Segunda fase

GUSTAVO NAKLE

Aqui abordamos os artistas estrangeiros que por algum motivo vieram para o Brasil e aqui se propuseram a esculpir. Cada um trouxe consigo a influência, direta ou indireta, de seus países e deixaram a criatividade se unir à técnica na elaboração de seus trabalhos. Vindos de mundos diferentes esses artistas encontraram no Brasil a sua pátria e conseguiram realizar obras de arte com uma mescla de culturas muito interessante.

Alina veio de Cuba, mas suas obras em fibra de vidro levam as cores da natureza brasileira como forma de expressão. Inos esculpe desde 1953 quando ainda morava na Itália, sua terra natal, e seus personagens lúdicos retratam ele mesmo em formas divertidas e únicas. Margarita nasceu em Barcelona e de lá trouxe suas primeiras inspirações com raízes em Gaudí. Santos Lopes é português e em sua obra firme e figurativamente geométrica, demonstra a força e a personalidade de suas raízes. Toyota nasceu no Japão e trabalha mesclando linguagens do ocidente e oriente, chegando a uma abstração geométrica que alinha princípios concretistas, neoconcretistas e minimalistas. Gustavo Nakle trouxe consigo do Uruguai um lado surrealista que o fez realizar obras de uma sensibilidade peculiar, fortemente influenciadas pela arte Pop. Odete Eid é natural do Líbano, mas só algumas vezes expressa o seu lado patriótico, pois em suas bailarinas mostra uma leveza ímpar.

Terceira fase

FERNANDO CARDOSO
A nova geração de escultores tem um enorme acervo de técnicas e algumas formas herdadas da cultura anterior. As linhas mais utilizadas que podemos perceber são vindas do Pós-modernismo, como o citacionismo e a releitura. Além disso, têm a possibilidade de recorrer a novos materiais industriais e tecnológicos como resinas, borrachas, plásticos e recursos digitais.

São muitas as tendências a serem escolhidas. Muitas linhas sendo utilizadas ao mesmo tempo acabam se fundindo e dando origem a outros gêneros, mesclando técnicas, materiais e conceitos. Graças à estas misturas, novas soluções têm aparecido e a evolução fertiliza as formas de expressão. Hoje é permitido misturar materiais e recursos sem que isso lhes traga uma exclusão da categoria. Todas as linhas de trabalho estão sendo pesquisadas à exaustão. Mesmo assim, as novas técnicas são sempre baseadas nas antigas que nunca envelhecem.

Franklin usa o mármore em suas peças escultóricas da série Germinação. Anita Kaufman utiliza o aço inoxidável, o ferro, latão, bronze, alumínio, cimento, mármore e fibra de vidro além de finalizá-las com laca, pátina, tinta automotiva ou grafite. Já Bea Machado é adepta ao bronze pela expansão da peça enquanto esfria. Claudio Aum esculpe o surrealismo em materiais como o alumínio, mármores reciclados e bronze. Darlan cria obras que saem de animações em 3D articuladas em matrizes positivas e depois as transforma para materiais de alta densidade e peso como o ferro e o aço. O concreto Alveolar revestido com massa de resina e pó de mármore e inox polido são os materiais usados por Eliete Vilella. Moysés Mellin sempre pesquisa variados materiais, usando do vidro ao aço carbono, passando pela madeira recortada. Victor Farrel  trabalha a partir de rochas como o mármore, granito, quartzito e basalto e também molda metais, cerâmica, madeira e fibra de vidro com acabamento em esmalte automotivo. Yole Travassos desenvolve sua criação a partir do bronze, da cerâmica e da resina.

Fernando Cardoso parte da modelagem do barro e finaliza em bronze, resina, mármore e cimento seus trabalhos com uma forte expressão de sentimento mostrada através dos movimentos. Cláudia Kiatake harmoniza as curvas de suas esculturas através do metal e da madeira certificada, enquanto Ronaldo Camara desenvolveu sua própria técnica, um neologismo da fusão de resina de poliéster com todo tipo de material reciclável. Marisa Zacura molda suas inusitadas esculturas em resina de poliéster ou em papel marchê, pó de mármore, bronze e argila. Rodrigo Saramago caracteriza o equilíbrio, a leveza e o movimento através de obras em ferro e bronze, mostrando uma interligação entre as pessoas com fluidez e aspecto tridimensional. Nos trabalhos de Regina de Barros, verdadeiras esculturas tecidas, bordadas, podemos observar o arame modelado das mais diversas formas e nas mais diversas espessuras formando tramas, ninhos, módulos e texturas carregadas de grafismos e poesia.

Todos estes novos artistas desenvolvem a possibilidade de um mergulho estético em um mar de infinitas combinações plásticas que tem a estética escultórica como eixo central, a escultura como ato imperfeito de amor.

Sônia Skroski