Lacourt: a viagem da pintura

Óleo Ilha da Madeira
Óleo Ilha da Madeira
 

Hoje, à noite, quinta-feira, 11 de setembro, a partir das 18 horas o movimento da rue de Richelieu, no Palais Royal de Paris, vai dobrar. No número 10, na Sifas, o artista plástico Jean-Pierre Lacourt expõe pinturas a óleo e pastéis.

Em junho, quando estive em Paris, passamos uma tarde vendo as obras que seriam expostas. De volta ao Brasil, escrevi o texto que público abaixo:

Exercício da pintura ou uma lição de amor

Não consigo pensar na pintura de Jean-Pierre Lacourt sem pensar nos gestos atentos e amorosos de um amante apaixonado. Arquiteto por profissão, pintor por opção, Lacourt é essencialmente um pintor à moda antiga. Ama sua pintura. Não sabe viver sem ela. Pintor à moda antiga mas não rétrogrado. Lacourt anda por esse mundo de Deus desenhando em pequenos cadernos de bolso o que vê. Tudo o que o emociona.

Se "navegar é preciso, viver não é preciso" - como escreveu Fernando Pessoa - para Lacourt a imprecisão da vida torna o viajar não só necessário, mas exato. Preciso.

Ora no Brasil - em Ouro Preto, Diamantina, Ilhabela, Marajó... Ora em outros lugares - em Santorini, Torcello, Costa Brava, Madeira... Ou ainda na França - em Paris, Bretanha, Martinica... Com a simplicidade dos verdadeiros artistas à moda antiga, Lacourt observa, desenha, anota.

Mas é no seu ateliê próximo do Palais Royal que ele pinta. Trata a tela, o papel com carinho. O óleo, a aquarela, o pastel com amor. Pródigo no gesto, Lacourt é parcimonioso no trato com as cores. Em sua paleta não há desperdício. Esbanjamento. O comedimento domina. E assim, surgidas desse namoro antigo e delicado, imagens de permanente beleza cobrem as folhas brancas, as telas virgens. Frutos maduros. Expressivos, do amor.

Pastel Grécia Ilhas <br />
Cyclades
Pastel Grécia Ilhas 
Cyclades
 

As reproduções das pinturas demonstram que se Lacourt tivesse nascido no século 19, estaria ao lado de Rousseau e Daubigny em Barbizon.

Para Lacourt, o sol, a luz e a natureza, fazem parte de um todo que só pode ser captado ao vivo, in loco. Por isso viaja por esse mundo afora.

A intensidade de sua paleta varia de acordo com a luz desses lugares. Essa variação é responsável pela rica gama de tons trabalhados por Lacourt em toques que primam pela suavidade ou arrebatamento total.

Ao pintar uma paisagem no Brasil em Diamantina, Minas Gerais, ou na Itália, em Torcello, Veneza, Lacourt retoma a teoria e a prática de Barbizon, captando imagens que teriam feito as delícias de Corot ou Millet.

Mas, ao expressá-las, não se atém às regras da escola, extrapolando-as sempre. Essa saudável rebeldia é responsável pelo frescor dessa pintura que, sem deixar de ser figurativa, chega às vezes à abstração.

Mais não digo. As pinturas falam mais do que eu.

Pastel Brasil Largo do Rosário Diamantina MG
Pastel Brasil Largo do Rosário Diamantina MG

Óleo Creta Lassitthi
Óleo Creta Lassitthi

Óleo Paris Cais das Flores
Óleo Paris Cais das Flores

Pastel Veneza Torcello
Pastel Veneza Torcello


Carlos von Schmidt
São Paulo 11 de setembro de 2003

Crie um site grátis Webnode