Ladrões de Arte

Roubar museu, galeria de arte, exposições itinerantes deixou de ser fato isolado. Que só repercute nos meios de comunicação após o roubo.
Hoje na Interpol estão registrados 30000 roubos. O FBI estima em 4 biliões e 100 milhões de euros o movimento anual das obras roubadas. 11 biliões e 275 milhões de reais.
Entre as atividades ilegais, o roubo de obras de arte ocupa o terceiro lugar. Só perde para o trafego de drogas e de armas.
Picasso é o preferido dos ladrões. O alto valor de suas pinturas o transformou em alvo permanente. É o artista mais roubado em todo mundo. Detém o recorde de 694 obras roubadas, incluso a do MASP. Dessas 122 foram recuperadas. A do MASP está entre elas.
As outras 572 encontram-se desaparecidas em locais ignorados, sob sete chaves em coleções privadas ou nas mãos dos ladrões e receptadores. Não se trata de uma ou duas pinturas, são 572.

Um outro espanhol, o catalão Joan Miró ocupa o segundo lugar. Teve 388 obras roubadas. Dessas somente 24 foram recuperadas. 364 continuam desaparecidas.
Em terceiro lugar vem Marc Chagall. Com 366 obras roubadas. Teve mais sorte do que Miró. 49 foram recuperadas. As outras 317 ninguém sabe onde estão.
Outro espanhol, o catalão Salvador Dalí teve 300 obras roubadas. 25 foram recuperadas. Menos de 10%. 275 continuam em mão alheias em locais ignorados. As falsificações não estão incluídas nesta lista. Gravuras e desenhos chegam a algumas centenas.
A ação dos ladrões, no passado discreta, hoje lembra filme de gangsters na Chicago dos anos 20. Invadem museus com armas na mão e levam o que querem. Foi assim em Zurique em 10 de fevereiro. Quatro homens invadiram a Fondation Bührle, fortemente armados.
Levaram quatro pinturas, Branches de marronnier en fleur,Ramos de castanheiro em flor, de Van Gogh, Les coquelicots près de Vétheuil, As papoulas perto de Vétheuil, de Monet, Le Comte Lepic et ses filles, O Conde Lepic e suas filhas, de Degas e Le Garçon au gilet rouge, O Rapaz com colete vermelho, de Cézanne.

Valor das obras. 112 milhões de euros. 308 milhões de reais.
9 dias após o roubo, no estacionamento de uma conhecida clínica psiquiátrica de Zurique, Burghhölzli, em um carro branco utilizado no roubo, foram encontradas duas telas. A de Van Gogh e a de Monet.
É claro que não foram esquecidas. Era um recado dos ladrões. Estavam prontos a “negociar” as telas de Degas e Cézanne.
Seqüestrar obras de arte famosas e exigir resgate, recentemente passou a ser denominado artnapping, contração de art e kidnapping, arte e seqüestro. Só a denominação é nova.
Esse tipo de roubo existe desde que Raymond Koechlin, presidente da Societé des amis du Louvre, em 1911 ofereceu 25.000 francos para quem desse notícia sobre a Mona Lisa roubada na manhã de 21 de agosto daquele ano. 25.000 francos na época era muito dinheiro.
Desde então roubar obras de arte e pedir resgate às companhias de seguro passou a fazer parte do dia-a-dia dos ladrões. Porém nem sempre o artnapping é a motivação. Há outras.
Até hoje não ficou claro o que levou os ladrões do Masp a roubar o Picasso e o Portinari. Falou-se em encomenda. Mas não se disse de quem.

O nebuloso roubo de quatro valiosas telas, de Picasso, A Dança, A Marine, de Monet, Jardin de Luxembourg, de Matisse e Dois Balcões, de Dalí, avaliadas na época, 24 de fevereiro de 2006, em 55 milhões de dólares, 115 milhões de reais, no Museu da Chácara do Céu do Rio de Janeiro, continua insolúvel. A hipótese de que teria sido um roubo encomendado foi levantada. Mas também, como no roubo do Masp, não se chegou ao marchand e ao colecionador interessado nas obras.
Das 1748 obras de Picasso, Miró, Chagall e Dalí roubadas, 1528 continuam desaparecidas. A possibilidade de que voltem a seus proprietários, é pequena. Quase nula.
Enquanto museus e galerias não investirem para valer em segurança, os roubos continuarão. As obras expostas nesses locais, continuam a ser um prato cheio, ou melhor, um banquete para os larápios de plantão .
São Paulo, 9 de março de 2008 13H55
posted by Carlos von Schmidt