Lingerie: a volta do glamour

Conjunto em algodão, “Princesse”, da marca Tam-Tam

Conjunto em algodão, “Princesse”, da marca Tam-Tam

Simplicidade e muita renda na dose certa.

O passado sempre fez uma bela moda. Mesmo os mestres da lingerie dão uma olhadela no baú das vovós, para criar sempre o mais moderno à moda antiga.

De olho no retorno da moda dos anos 50, 60 e 70 está o máximo dos lançamentos para o próximo verão parisiense.

A marca de lingerie ETAM convocou 4 estilistas para reintegrarem a moda “de baixo”. E fizeram um estilo baseado em David Hamilton, fazendo ressurgir o “tule” branco, o esvoaçante, os bordados.

Foto de David Hamilton
Foto de David Hamilton

 

Sempre há uma transparência baseada nas antigas rendas, nas cores branca, pó de arroz ou mandarim.

Mas as mulheres também homenageiam as mulheres, no que diz respeito à moda mais íntima. Vanessa Bruno é o “boom” do momento nas criações parisienses. Até os homens do ramo da moda tiram o chapéu para esta redescobridora da intimidade feminina, sem ser piegas.

“Pode-se fazer uma lingerie utilizável, em transparência, sem que seja totalmente transparente. Hoje a lingerie é um acessório “exterior” que pode ser traduzida em um decote de onde sai uma renda, a delicadeza de uma rendinha sobre um dorso nu, etc...” revela Vanessa Bruno em suas declarações.

E diz que “ Estamos em um mundo de super consumo. Mas uma mulher precisa se sentir única, encontrar-se com ela mesma, redescobrir um verdadeiro refinamento e um verdadeiro trabalho em sua vestimenta. Esta procura é ainda mais apoiada na lingerie, onde a relação com o íntimo é particularmente forte... uma mulher pode encontrar o que lhe mostra melhor, o que melhor mostra seus atributos, seu pequeno tesouro. Uma lingerie desse gênero é capaz de suscitar emoção, de “tocar” as mulheres”.

Nessa linha “retrô” da redescoberta da sensualidade da mulher e de sua elegância íntima, surgem inúmeros lançamentos, cheios de fantasias e fitinhas, a la pin-up.

Foto de David Hamilton
Foto de David Hamilton
 

No universo das criações refinadas e preciosas estão as coleções imaginadas porFifi Chachnill ou Chantal Thomass.

Fifi Chanchnill arruma o imaginário com suas blusas e suas sob-blusas em charmosos rosas ou pretos. Calcinha baixa e esvoaçante, cetim com estampa de bolinhas, mousselines plissadas, combinações curtas, triângulos com plumas estampadas de bolinhas. O charme ressurge.

Mesmo desejo de sedução com Chantal Thomass: “As mulheres descobriram que com a lingerie elas podem, antes de tudo, dar prazer a elas mesmas”, relembra em seu livro “Prazer das mulheres” (Manoeuvres Editions), publicado por ocasião de uma retrospectiva que o Museu da Moda de Marseille lhe consagrou em 2001.

Ousando a exuberância total, liberada de todos os tabus, Chantal Thomasssempre fez sua a imagem das pin-up do pós-guerra, carnudas e ultraglamorosas, sem cair na vulgaridade.

Em “Prazer das mulheres”, o costureiro Thierry Mugler relata: ” É a primeira mulher a ter a audácia e sobretudo a inteligência, de explorar o universo do sexo. Ela o fez com muito humor e versatilidade. Mostrou às mulheres que podem brincar de mulheres fatais mas que também podem ser simplesmente estonteantes e sensuais. Em um meio dominado pelos homens, ela trouxe seu olhar de mulher, uma mulher determinada a utilizar seu poder de sedução.”

Foto de David Hamilton
Foto de David Hamilton

 

Um assunto tão vasto e tão bem imaginado e criado por muitos, mereceu uma exposição em Paris, inaugurada no último dia 3 de junho.

A exposição foi idealizada por Ghislaine Rayer que, após ter lançado “As noites de cetim”, redescobre os “bustiers” bem cortados, os jogos de tulle plissados e estampados com bolinhas, as curvas, as riscas de giz masculinas ornadas de rendas ultrafemininas.

Combinação em seda e renda «Emozione»
Combinação em seda e renda «Emozione»
 

“Dessous et corsets” retraça a história de 150 anos de lingerie. História que demonstra que o passado de antes se conjuga mais do que nunca no presente.
 

Sonia Skroski
São Paulo, 14 de junho de 2004
12h34