Modernistas, 90 anos. A semana de 1922 em reflexão.
Oficialmente o movimento modernista irrompe, no Brasil, com a Semana de Arte Moderna realizada no Teatro Municipal de São Paulo, apresentando novas ideias artísticas. A “nova” poesia através da declamação. A “nova” música por meio de concertos. A “nova” arte plástica exibida em telas, esculturas e maquetes de arquitetura. O adjetivo "novo", marcando todas estas manifestações, propunha algo a ser recebido com curiosidade ou interesse.
Logo após a realização da Semana, alguns artistas fundamentais que dela participaram acabaram voltando para a Europa (ou indo lá pela primeira vez, no caso de Di Cavalcanti), dificultando a continuidade do processo que se iniciara. Por outro lado, outros artistas igualmente importantes chegavam após estudos no continente, como Tarsila do Amaral, um dos grandes pilares do Modernismo Brasileiro.
Não resta dúvida que a Semana integrou grandes personalidades da cultura da época e pode ser considerada importante marco do Modernismo Brasileiro, com sua intenção nitidamente antiacadêmica. Além disso, discute-se o "modernismo" das obras de artes plásticas que apresentavam várias tendências distintas e talvez não tivessem tantos elementos de ruptura quanto seus autores e os idealizadores da Semana pretendiam. Mas a sua atual importância deve ser comemorada e dessa forma idealizamos uma mostra para desenvolver uma compreensão hoje, do que eles fizeram no passado. Separamos o espaço entre a primeira e a segunda geração de artistas plásticos modernistas e tentamos dar uma real ligação da literatura, arquitetura e música, através de bate-papos com críticos e complementando com um concerto intimista com a obra de Villa Lobos e de seus seguidores.
Em um primeiro plano Modernista trazemos Tarsila do Amaral com uma água forte e um desenho, ambos sobre papel, que demonstram a singela personalidade desta artista de cores e traços fortes. Anita Malfatti está presente com A Fazendinha, que representa exatamente a forma como ela queria pintar, uma pintura simples, facilmente compreendida por todos. Já Di Cavalcanti foi o furacão da Semana. As telas desta exposição contêm todas as formas as quais Di gostava de pintar, com influência do cubismo e os temas brasileiros em todas elas.
Victor Brecheret está bem representado com obras da década de vinte como a Madona de 1924, Cabeça de tocadora de guitarra da mesma década e a peça Ídolo que participou da Semana. Barca é um dos estudos para o Monumento às Bandeiras. Além de desenhos a nanquim e tinta china com estudos preciosíssimos dos anos 1941 e 1950. Vicente do Rego Monteiro, artista múltiplo, coloca sensação de volume em suas obras e suas telas na exposição mostram bem a característica de sua pintura que apresenta forte influência do cubismo. Antônio Gomide aparece com estudos para estamparia, aquarelas que são de 1920 e traduzem a fase inicial de sua carreira. A aquarela de Cícero Dias exposta nesta homenagem é uma delicada e sutil explosão de cores e mostra uma leveza e uma delicadeza pertinentes à técnica.
Já no que diz respeito à 2ª geração de modernistas apresentamos uma seleção vasta e rica. Pancetti está representado por uma paisagem que é uma de suas temáticas preferidas, feito com pinceladas lisas e batidas. Guignard está presente com São Sebastião, tela dos anos 60 de tema religioso, muito comum em sua produção e como toda sua obra, tem o desenho como base predominante. Portinari sempre se preocupou com as questões sociais do Brasil assim como mostra o grafite Borracha. Ainda temos telas dos anos 20 e dos anos 40 e pode-se verificar nelas o que sempre quis passar em suas pinturas, o sentimento. É nítida a mudança na obra de Bonadei observando as telas escolhidas. Seu aprendizado acadêmico pode ser visto em Retrato feminino e nos óleos dos anos 60 é possível observar sua mudança de direção para a simplificação dos traços e para o abstracionismo. Clóvis Graciano sempre com seu figurativismo impecável e no óleo Músicos, de 1972, retrata uma de suas temáticas preferidas tanto nas telas como nos murais. Já Pennacchi, figurativo que pintava com grande poesia as pessoas simples, do campo, caboclos e pessoas do povo, tem na mostra uma representação do que há de mais genuíno em seu trabalho. Carlos Scliar sempre inovou em sua criação. Gostava de pesquisar técnicas diferentes, têmpera, acrílico, artes gráficas e colagens. As obras expostas têm a utilização de colagens, técnica muito representativa em sua obra.
Nos anos 20 artistas de diversas frentes, literatura, arquitetura, artes plásticas e música, negavam a arte acadêmica, influenciados pelas tendências e movimentos como o Cubismo, o Expressionismo e diversas ramificações pós-impressionistas. Hoje a arte brasileira é uma mescla destes movimentos e tem sua personalidade definida em todos os segmentos artísticos.
Nossa homenagem a estes artistas corajosos que enfrentaram vaias e indignação para poderem reinventar a arte brasileira e modernizar a forma de expressão artística em todos os moldes é mais do que justa, moderna, reflexiva.
Sonia Skroski