Munich - Spielberg pisou na bola

Munich 5 de setembro de 1972 Vila Olímpica Sequestrador do Setembro Negro

 

À medida que o filme de Steven Spielberg passava na tela meu desconforto aumentava. Quando terminou compreendi a irritação dos judeus nos Estados Unidos, em Israel e mundo afora.

Ficou clara para mim a reação indignada do Mossad, o serviço secreto de Israel, retratado precariamente por Spielberg, completamente diferente do que é.

A história que Spielberg conta a partir da operação Baionet, desencadeada pelo governo de Israel por decisão de Golda Meir, Exército e Mossad, para localizar e eliminar os idealizadores e envolvidos no atentado, em nenhum momento faz jus à operação verdadeira, iniciada em 1972. 

Baseia-se no livro de George Jonas, VengeanceVingança, adaptado por Spielberg. O livro é considerado um embuste, não confiável. 
David Kimche, homem do Mossad, depois de ver Munich declarou:”É uma tragédia que uma pessoa do gabarito de Spielberg tenha baseado seu filme em um livro falso”.

Do lado palestino, Mohammad Oudeh, mais conhecido como Abu Daoud, 69, em uma cama de hospital em Damascus, capital da Síria, disse dia 16 do corrente à DPA, Deutsch Presse-Agentur: “o filme está todo errado”.

Daoud sabe o que diz. Foi o cérebro da operação do Setembro Negro. Cuidou de todos os detalhes. Esteve antes, durante e depois do atentado em Munich.
Deixou a Alemanha dois dias depois do final trágico. 

De bom, de verdadeiro o filme só tem o que Spielberg não filmou.
Imagens reais da televisão mostrando a ação dos terroristas do Setembro Negro no alojamento dos atletas na vila Olímpica e o triste comunicado do comentarista Jim McKay informando que todos os israelita estavam mortos. 
 

Cartaz das Olimpíadas de Munich 1972

Talvez dez minutos de filme. As duas horas e vinte minutos restantes são do começo ao fim, decepcionantes. Spielberg não faz a menor alusão ao despreparo da polícia alemã, do fiasco total do regate no aeroporto, da falta de diálogo. Da tocaia primária e irresponsável. Da burrice total. 

O Spielberg de Jaws, de Tubarão, de Schindler’s List, A Lista de Schindler, deSaving Private Rayan, O Resgaste do soldado Rayan está ausente de Munich.

Embora haja quem considere Munich o ponto mais alto a que Spielberg chegou, a maioria é unânime em considerá-lo um desastre. A declaração de Spielberg de que "Munich é um apelo à paz” não acrescenta nada ao filme. 

Há uma cena em que a equipe do Mossad é surpreendida por acaso em uma “casa forte”, um “aparelho seguro”, por um grupo de terroristas palestinos, e depois do susto passam a noite juntos e dialogam sobre as relações Israel-Palestina, simplesmente inacreditável. Cinema da pior qualidade. Cinema que subestima a inteligência do espectador. 

Resumindo, mesmo que você não tenha nada para fazer, não perca tempo comMunich

Depois da decepção não vejo a hora de ver o documentário One Day in SeptemberUm Dia em Setembro, do britânico Kevin MacDonald, realizado em 1999. 

MacDonald entrevistou em Israel parentes dos atletas mortos e membros do Mossad. Em Munich, autoridades alemãs, Hans-Dietrich Gencher, ministro da Justiça e Manfred Schreiber, chefe da polícia da cidade em 1972.

Na África, em Amã, conversou durante oito horas com o único terrorista que ainda vive, Amman Jamal al-Gashey. Encontrá-lo foi uma Odisséia. Entrevistá-lo, outra.

Al-Gashey, permanentemente apavorado vive escondido. Embora se tenham passados trinta e três anos depois de Munich, sabe que ainda continua na mira do Mossad. O Mossad não brinca em serviço. De 1972 a 1979 onze companheiros de al-Gashey do Setembro Negro ou ligados a OLP foram localizados e mortos.
 

Capa da revista Life sobre o atentado de 1972 em Munich

Agora que o filme de Spielberg trouxe a baila o atentado e a ação do Mossad se tornou pública, o pavor de al-Gashey cresceu. Sabe que mais dia menos dia...

Se Munich ficou à superfície tudo indica que One Day in September foi fundo. 

Por isso recebeu o Oscar de melhor documentário em 2000. Será que Munichlogo mais receberá algum? Duvido!!! 

21 de fevereiro de 2006 10H56’ Carlos von Schmidt