Auto-retrato com bigode falso 1634

A bordo do transatlântico, o homem pega o telefone. Digita os números. Na Inglaterra, em Londres, na Sotheby's o telefone toca. Atendem. O homem fala. Na sala de leilão, um auto-retrato de Rembrandt. Coisa rara. Só restam mais três em coleções particulares em todo mundo. O leiloeiro anuncia a venda. O Rembrandt foi arrematado por 6 milhões 940 mil libras.

Uma libra vale R$ 4,72565. Sem a comissão da Sotheby's o homem do navio pagou 32 milhões 796 mil reais pela pintura. Rembrandt tinha 28 anos quando, em 1634, pintou o auto-retrato.

Naquele ano já tinha pintado a série de 100 auto-retratos. Dois anos antes pintara a famosa Lição de Anatomia do Dr. Tulp. Em 1634 já estava casado com Saskia van Ulyenburgh, filha do prefeito de Amsterdã.

Bem sucedido, feliz, retratando ricos e poderosos, Rembrandt não tinha por que autorizar um de seus alunos a "maquiar" seu auto-retrato, para torná-lo mais vendável, acrescentando-lhe um enorme chapéu vermelho, cabelos compridos, brincos e bigode.

Essa história soa falsa e pouco verdadeira. É difícil acreditar que Rembrandt tenha autorizado tal impostura. Provavelmente a "garibada" foi feita sem que Rembrandt soubesse ou talvez após sua morte.

Os acréscimos alteraram de tal modo o original que até os anos 30 a autoria de Rembrandt foi contestada. Na década de 60, os antigos proprietários conseguiram eliminar o chapéu. Posteriormente os brincos. Finalmente o bigode.

Em 1995 o auto-retrato foi submetido a testes com raios-x, infra–vermelhos, carbono 14. Cuidadosa e minuciosa limpeza revelaram o verdadeiro Rembrandt.

Hoje, o Rembrandt deve estar na parede da mansão do homem do transatlântico, Steve Wynn, 60 anos, dono de um hotel e de um cassino em Las Vegas.

O Rembrandt passou a fazer parte de uma das maiores coleções de arte dos Estados Unidos. Comenta-se que em breve estará exposto ou no hotel ou no cassino.

370 anos depois de pintado, sem o chapéu vermelho, cabelão, brincos e bigode, Rembrandt volta à luz.

Carlos von Schmidt
11 de julho de 2003
São Paulo 22 horas 30