Rápido como a polaróide

O papa João Paulo 2º e Andy Warhol no Vaticano
O papa João Paulo 2º e Andy Warhol no Vaticano

 

Embora freqüentássemos os mesmos lugares como o Chelsea Hotel, o restaurante de lagosta ao lado, passássemos pelos mesmos caminhos, conhecêssemos as mesmas pessoas, o Hilton Cramer do New York Time, o Gregory Battcock, o Henry Geldzahler e o David Hockney, nunca nos encontramos nem nos falamos. Sequer por telefone.

Estava em New York, Queens, desde meados de dezembro de 86 quando, em janeiro, Andy Warhol internou-se no New York Hospital para exames para uma operação de vesícula, de rotina.

Cheguei a São Paulo dia 11 de janeiro de 87. Dias depois, em 23 de fevereiro, lendo o Estadão, vi a notícia da morte de Andy Warhol.

Ele, que em junho de 68 resistira aos tiros disparados por jovem biscate que se dizia atriz e sobrevivera a uma cirurgia de cinco horas e meia, oito anos depois não resistiu a uma simples extração de vesícula.

A causa mortis, "arritmia cardíaca" depois de um pós-operatório normal, deu muito que falar. O hospital foi questionado, investigado, mas isso não trouxe Andy Warhol de volta.

Andy Warhol na Factory 1965 (foto de Jon Naar)
Andy Warhol na Factory 1965
(foto de Jon Naar)

 

Dos artistas que marcaram minha vida, poucos, três talvez, Warhol foi um deles. Via o mundo como sempre vi e continuo a ver. Tudo se reduz a imagens. Tudo não passa de imagens.

Imagens que Broudillard insiste em dizer que não existem, que não passam de simulacros. Em Matrix aborda-se superficialmente o assunto, mas já é um começo. A ponta do iceberg.

Para mim, a importância de Warhol na arte contemporânea só encontra paralelo em Picasso.

Acredito que Warhol teve a vantagem de envolver-se muito mais do que o espanhol no pequeno e no grande universo em que viveu.

Andy Warhol auto-retrato acrília e serigrafia, 1986 (col. Sra. e Sr. Robert Roseblum, New York)
Andy Warhol auto-retrato acrília e serigrafia, 1986
(col. Sra. e Sr. Robert Roseblum, New York)

 

Enquanto Picasso foi visceralmente pintor, Warhol quando não desenhava, não pintava, filmava, fotografava, editava. Era um olho que tudo captava. Rápido.

Por isso usava a Polaróide. A rapidez do processo permitia-lhe olhar, fotografar, ver o resultado da foto. Aprovar ou não. Seu jeito de ver fazia parte da imagem escolhida, selecionada, captada.

Se a parafernália cinematográfica o limitava, com o gravador e a Polaróide sentia-se livre para entrevistar e fotografar até mesmo o Papa.

A dinâmica que lhe permitiam essas duas ferramentas de trabalho é responsável por entrevistas memoráveis publicadas em Interview, revista que bolou e deu vida.

Liza Minneli (Copyright 2003 Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. - Ars, New York)
Liza Minneli
Copyright 2003 Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
Ars, New York
 

As setenta e sete fotos que o Centro Cultural do Banco do Brasil apresenta a partir de 3 de junho a 20 de julho fazem parte de um acervo que reúne milhares.

Representam um momento em que o artista plástico, o publicitário, dá lugar ao jornalista, ao fotógrafo, ao editor.

Nelas é possível encontrar o olhar ávido e curioso do artista que tornou nosso tempo mais visível através de uma lata de Campbell's Condensend Soup.

Ícone revelador.

Sobre a curadoria de Nessia Leonzini e a exposição de 
Keith Haring falarei depois de ver a mostra.

Pelé (Copyright 2003 Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. - Ars, New York)
Pelé
Copyright 2003 Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
Ars, New York

Self-portrait in fright wig (Copyright 2003 Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc. - Ars, New York)
Self-portrait in fright wig
Copyright 2003 Andy Warhol Foundation for the Visual Arts, Inc.
Ars, New York


Carlos von Schmidt
29 de maio de 2003 18horas 15 

Crie um site gratuito Webnode