Silêncio loquaz

Retrato de aristocrata   Huê 1936
Retrato de aristocrata
Huê 1936

 

Nas paredes da galeria Joyce do Palais-Royal, 168-173, Galerie de Valois, de Paris, as fotos de Loi Nguyên Khoa, mostram um Vietnã fotografado nas décadas de 30 a 60.

A exposição denominada Souffle e sérénité apresenta esculturas de terra cota de François Salem e fotografias de Khoa.

Poderia ser mais uma exposição das muitas que vi em Veneza e em Paris, mas não é. As fotos estão expostas graças ao interesse e persistência de Salem.

Retratam um Vietnã visto por um fotógrafo vietnamita nascido no início do século passado em 1906.

Bem nascido, começou a fotografar aos 22 anos. Ligado à nobreza, podia movimentar-se e fotografar livremente.

Isso lhe permitiu captar imagens da aristocracia local. Porém, o que mais fotografou foi o povo. Os arrozais, os camponeses, os pescadores. As paisagens, os templos.

Reconstrução de diques entre os arrozais   1939
Reconstrução de diques entre os arrozais - 1939

 

Quando os comunistas depois do fim da 2ª Guerra, em 1945, dominaram o Vietnã, as fotos de Loi foram escondidas. Enterradas, por pouco não foram destruídas pelas enchentes periódicas do Rio dos Perfumes que inundava Huê.

Loi tinha 95 anos quando François Salem o localizou nos anos 80, iniciando um relacionamento que resultou na seleção, aquisição, restauração e reprodução dos negativos.

O livro reúne 70 fotos de um Vietnã distante.

De um Vietnã mais próximo de O Amante de Marguerite Duras, de Indochina de Régis Wargnier do que de Apocalypse Now de Coppola.

A beleza milenar dessas fotos está refletida nas terras cotas de François Salem.

Não há nessas figuras urgência, o imediato do ocidente. Não há pressa.

Pinheiro chinês em frente à porta da Lucidez Eterna
Pinheiro chinês em frente à porta da Lucidez Eterna
 

Elas se deixam ficar como instante captado em um piscar de olhos, em um clique, mas, para sempre eternizado em momento pleno.

Talvez, a grande qualidade dessas terras cotas esteja no jeito tranqüilo de ser, na recusa total ao exibicionismo, ao grito, ao alarde.

Esse silêncio fala mais do que mil palavras.

Ano novo lunar   Na calçada, escriba público escreve frases paralelas   1951
Ano novo lunar
Na calçada, escriba público escreve frases paralelas - 1951
 
Noviço traçando linhas a tinta à moda antiga   1957
Noviço traçando linhas a tinta à moda antiga - 1957
 
Mulher xamã   1965
Mulher xamã - 1965
 

A história de Loi e Salem está em Photographies de Loi Nguyên Khoa Huê 1930-1960, nouvelles editions, 152 páginas, 220 francos, 33,54 euros.

Carlos von Schmidt
São Paulo 7 de julho de 2003 17horas 15 minutos